Estamos há mais de um mês fechados em casa. Não podemos estar com os nossos amigos, ver os nossos familiares ou fazer algumas coisas que sempre demos por garantido, como ir a um restaurante ou mesmo passear num domingo à tarde num centro comercial. Esta situação tem um impacto directo na nossa rotina e sentimentos de frustação, impaciência e ameaça podem surgir de uma forma mais intensa neste momento. A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), criou um documento de apoio que nos ajuda a perceber o que estamos a sentir e o que podemos fazer para ultrapassar esta situação.
O que estamos a sentir com o isolamento devido ao COVID-19
Durante este último mês, temos estado a passar por desafios e limitações com implicações na nossa vida familar, social e profissional que nunca experienciámos antes. Segundo o documento da OPP, podemos ter sentido ou estar a sentir:
- Saudades dos familiares e amigos e do contacto físico, porque uma vídeo-chamada ou chamada de voz não podem substituir a presença física.
- Falta de andar na rua, de passear, de estar na natureza, porque estamos agora limitados às paredes da nossa casa.
- Falta das rotinas habituais, como ir ao café, jantar fora, sair à noite.
- Falta de tudo aquilo que dávamos por garantido, como poder andar na rua ou entrar em qualquer estabelecimento sem qualquer preocupação.
- Sobrecarga e exaustão, por exemplo por ter de conciliar teletrabalho com apoio a crianças pequenas.
- Preocupação com o futuro, como por exemplo, a manutenção do emprego ou a recuperação económica do país.
- Zanga e injustiça, porque vemos que outras pessoas não cumprem o isolamento como nós.
- Impaciência, por não ver resultados imediatos do nosso esforço.
Estes sentimentos, têm naturalmente, impacto em nós, na nossa saúde física e psicológica. A nossa motivação, rotina são afectadas e facilmente hábitos positivos de exercício físico ou alimentação saudável podem ser rapidamente esquecidos. Por outro lado, os sentimentos de frustação e impaciência têm tendência para aumentar.
O que podemos fazer?
Os sentimentos de frustação e impaciência são inevitáveis. No entanto, segundo o documento da OPP, há várias coisas que podemos fazer para mitigar estes sentimento, mas antes de mais, temos que por a situação em perspectiva e entender alguns pontos essenciais:
- Do nosso comportamento depende a nossa saúde e de todos os que gostamos. Não estamos sozinhos, há milhões de pessoas por todo o mundo na mesma situação
- O isolamento é apenas físico. A nossa relação com os outros continua a existir. Não perca a sua rede social. Use as novas tecnologias para ter os que mais gosta por perto.
O que podemos fazer concretamente para lidar com o que o isolamento nos faz sentir, segundo o documento da OPP:
- Permanecer em casa e continuar a cumprir todas as recomendações das autoridades de saúde.
- Aceitar a incerteza e a imprevisibilidade da situação. Não sabemos quando é que isto vai acabar e é assustador. Não sabemos quando é que isto vai acabar e a perspectiva de mais umas semanas neste registo é horrível (ou qualquer outro adjectivo que considere adequado ao que está a sentir). E sim, precisaremos de esperar para ver os resultados positivos do nosso esforço de permanecer em isolamento
- Aceitar e sentir a dor de não poder estar e sentir fisicamente familiares e amigos.
- Compreender a importância de investir em manter o contacto com familiares e amigos.
- Partilhar sentimentos e experiências.
- Optimizar os contactos à distância com familiares e amigos.
- Ser criativo na forma como se realizam actividades em conjunto e à distância. Proponha a um amigo fazerem exercício físico em conjunto, joguem batalha naval, cozinhem o mesmo prato ao mesmo tempo, componham e cantem uma canção juntos. O que gostam de fazer e como podem adaptar essas actividades à comunicação à distância?
- Informar-se sobre a existência de versões digitais dos eventos e actividades que costuma frequentar.
- Procurar manter uma rotina.
- Fazer uma Lista de Desejos das coisas que gostava de ver, ouvir e fazer durante o tempo que durar o isolamento – as séries para as quais nunca teve tempo, o projecto que queria começar, algo que gostasse de aprender.
- Procurar ser e sentir-se útil. Procure formas de ajudar.
- Cultivar práticas de relaxamento e tranquilidade. Verificar constantemente as notícias e as redes sociais pode aumentar a ansiedade, é preferível focar-se em práticas que produzam emoções positivas – como conversar, pintar, ler, ouvir música, jogar um jogo.
- Encontrar e agradecer coisas positivas. Todos os dias tire alguns minutos para pensar em três coisas boas que lhe aconteceram, que sentiu ou experienciou e pelas quais se sente agradecido.
- Escrever um diário.
- Fazer uma massagem.
- Cuidar de si. Faça exercício físico todos os dias, alimente-se de forma saudável. Se possível partilhe tarefas com as pessoas com quem está em isolamento. Reserve tempo para si.
- Faça uma Lista de Desejos das coisas que gostava de ver, ouvir e fazer depois de terminar o isolamento e ter sido ultrapassada a pandemia, quando puder regressar à sua rotina habitual e abraçar familiares e amigos
- Vigiar o seu estado emocional. Se se sente sem esperança; se pensa constantemente nesta situação e imagina cenários catastróficos para si e/ou para o mundo; se tem sentimentos intensos de tristeza, zanga, irritabilidade ou frustração; se perdeu o interesse ou se sente incapaz de realizar as suas tarefas habituais; se dorme ou come mais ou menos do que o habitual, procure a ajuda de um Psicólogo.
Este é um período difícil para todos nós, e só em conjunto, podemos superá-lo.