Alguma vez quis fazer uma pergunta a um psicólogo? Alguma vez quis saber o que acontece numa consulta de Psicologia e como funciona? Ou simplesmente perguntar algo sobre aquilo que o(a) preocupa?
Lançámos o desafio nas redes sociais e temos recebido algumas questões bastante interessantes. Elegemos “Qual o propósito da vida?” como a primeira questão a ser respondida. É uma questão que, ao longo dos tempos, originou várias respostas relacionadas principalmente com a filosofia ou religião, mas para a qual não existe uma única resposta. Isto porque o propósito da vida está também relacionado com cada indivíduo.
Como não há uma resposta única para esta pergunta, perguntámos a 7 psicólogos qual a visão deles. Leia em baixo o que cada um disse.
Se quiser ver a sua pergunta respondida, envie-nos uma mensagem nas redes sociais ou envie a sua questão para o email perguntaaopsicologo@psionline.pt
Dr.ª Susana Robin
Responder à questão de forma objetiva e fechada seria dar-lhe uma resposta errada, o propósito da vida é algo muito específico, único e singular que encontra uma resposta diferente em cada um de nós.
Quando nos colocamos esta questão acredito que é porque ainda não encontrámos o nosso propósito e porque desejamos algo que nos possa orientar e dar sentido, desejamos perceber o que somos e o que fazemos aqui, queremos algo a que nos possamos agarrar.
Há momentos da vida que por algum motivo nos levam a parar e a redefinir o caminho, por necessidade e/ou por vontade de algo mais e melhor, no entanto, antes de encontrar a resposta para o propósito precisamos de fazer uma viagem interna e interrogarmo-nos sobre nós e sobre a nossa história.
Para encontrar o propósito primeiro temos que perceber como chegámos até aqui e depois, só depois e devagar ‘ porque temos pressa’ partimos em busca do que vai dar sentido à nossa existência e do que nos vai permitir viver vivendo e não apenas existindo.
Dra. Joana Piçarra
Qual o propósito da vida? Uma pergunta profunda e muito interessante.
A pergunta em si pode sugerir um autoquestionamento, para que serve a minha vida? a vida de cada um de nós?
O facto de nos conseguirmos questionar revela interesse em saber mais, curiosidade no sentido da importância da vida. Para que é que eu vivo? É uma questão muito particular, sendo que quem faz a pergunta terá uma forma única de lhe responder.
Para uma pessoa que esteja a passar por dificuldades económicas, o propósito da sua vida poderá ser, conseguir arranjar dinheiro para sobreviver. As necessidades básicas do ser humano, quando não asseguradas, podem gerar uma busca permanente na sua satisfação. Aqui podemos entender o propósito como objectivo.
Para uma pessoa mais ligada à espiritualidade, o seu propósito poderá ser encontrar a paz interior, por exemplo. Para um cristão, o propósito poderá ser servir a Deus, cumprindo os mandamentos da Bíblia, para um budista poderá ser a libertação dos desejos e do sofrimento.
Para cada objectivo de vida, para cada propósito que cada um identifica como sendo seu, há uma construção de um caminho, com desafios, com dúvidas, com possibilidades de superação. Para alguns uma simples resposta é suficiente, como seja o propósito da vida é viver, e esta simplicidade contem em si todo o valor de uma pessoa ser capaz de se contentar com a imensidão que é a vida, sendo que essa imensidão preenche e dá sentido. Ao pensarmos dessa forma, podemos sentir uma certa leveza, basta viver, tira a pressão do ter que fazer algo, ser algo, com um propósito maior, a simples condição torna-se o objectivo.
Para outras pessoas o propósito poderá ser alcançar a felicidade, ser feliz. No caminho de alcançar a felicidade, podemos questionar, o que nos faz feliz? Cada pessoa terá as suas respostas para o que lhe trará alegria na vida, para o que faz sorrir a sua alma.
Termino agradecendo a fantástica pergunta, sem dúvida intemporal, e com infinitas respostas possíveis, o que nos leva a sonhar e a imaginar qual delas serve o nosso propósito.
Dr. Hugo Nunes
Estive a pensar no meu próprio sentido de vida.
A procura do sentido da vida está ligado a uma característica muito humana, de procura de significado e propósito, em todas as nossas experiências.
É um processo de construção e não um encontro de uma resposta geral pre existente. Diferentes pessoas encontram sentidos diferentes, tendo em conta as nossas experiências de vida, o nosso histórico, as nossas necessidades e aquilo que aprendemos que nos dá prazer, na nossa própria vida.
É uma aprendizagem, que parte de um conjunto de experiências, de repetições, de erros, de resultados e de sensações.
Dar sentido à vida é viver com um Propósito, uma experiência individual que nos dá uma noção de utilidade (as nossas ações têm um objectivo, há a sensação de contribuição para algo, as nossas ações ou existência é útil para qualquer coisa), de continuidade (transmitem a sensação de uma experiência continua, que nos caracteriza, que até nos pode sobreviver), de pertença (na sociedade, no grupo, na nossa tribo) e de prazer (a capacidade de sermos felizes em diferentes momentos, quando estamos ligados a esse propósito).
Encontrar o sentido é entender qual o papel que gostaríamos de desempenhar, neste palco que é a vida. Explorar qual seria o propósito que nos faria sentir mais inteiros, pertencentes, nas nossas várias particularidades, mas ao mesmo tempo únicos
Dra. Filipa Roncon
Ao longo dos séculos, muitos foram os filósofos que estudaram a questão do sentido da vida, muitas foram as religiões que procuraram dar uma resposta, muitos os cientistas que investigaram a fundo as várias dimensões da existência humana, muitos os artistas que, com as suas obras de arte, procuraram responder a esta pergunta – qual é o propósito da vida?
No entanto, por mais pessoas, filosofias ou organizações que tenham dado contributos para esta grande questão, não há ninguém que dê a resposta por si.
O sentido ou propósito da vida é uma questão aberta, pessoal, mutável e permanentemente em construção. Além de procurar a resposta ou as respostas que mais se adequam a si e à sua história, porque não continuar a questionar(-se)?
“O que me move?”
“O que me dá prazer?”
“O que realmente me importa?”
“Como lido com o sofrimento?”
“Com quem posso contar?”
“Sou importante para quem?”
“Como quero viver?”
“Que importância tem o sexo, o amor e as amizades na minha vida?
“Como encaro a morte? As perdas? As separações?
“Como lido com o imprevisto, as crises, reviravoltas que a vida me oferece?
“Quem sou? Quem fui? Quem quero ser?”
“Quem não quero ser?”
E tantas outras questões…
O apoio psicológico e psicoterapêutico é um espaço para se pensar. Refletir sobre si e sobre a sua vida com um profissional que acolhe as suas questões pode ser uma experiência transformadora. O psicólogo não lhe dará respostas, mas pode contar com ele para “caminhar” ao seu lado na procura de novas questões e novos sentidos para a sua vida.
Como o poeta António Machado nos recorda:
Caminhante, as tuas pegadas
são o caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho.
Faz-se o caminho ao andar.
Dra. Maria Mateus
O propósito primeiro da vida é acontecer e prosperar. Necessita de um ambiente propício e nela se desenvolve, adapta e transforma. Até do ponto de vista biológico, tudo é mutável. As experiências de vida podem inclusivamente mudar a nossa biologia.
Mas não somos apenas biologia, somos as experiências que temos, somos sensação e mente, uma mente que interpreta, guarda e imagina. Sonha o que é e o que está por vir.
E, se o meio nos transforma, também temos a possibilidade de o transformar, mudando-nos e agindo.
E o propósito torna-se vasto como vasto é o número de pessoas e de estrelas. E refiro estrelas porque quando em verdadeira liberdade do ser interno, diz-se que o céu é o limite. Mas, e até biologicamente, necessitamos de segurança, de amor, para que haja disposição, tempo e espaço para ser criativo, para encontrar o que se busca em fases diversas da vida.
E assim, o propósito é também movimento, superação e mudança. Mas é sobretudo encontro. Encontro com o eu próprio e com o outro, os outros. E é comigo, com o outro e outros que os caminhos se fazem caminhando.
Assim, o propósito de uma vida (e não da vida), é tudo o que lhe pode dar sentido – o seu sustento existencial, a vontade e o prazer de ser, de estar, de fazer, de continuar e de sonhar
Dra. Marta Pedreira
Quando li a pergunta “Qual é o propósito da vida?” fiquei um pouco preocupada sobre quem fez esta pergunta… em que momento estará esta pessoa? Estará preparada para ler que o propósito da vida é por exemplo ser feliz? Ou será apenas curiosidade para uma reflexão mais ampla?
Perante esta pergunta, penso que a pertinência está em não nos centrarmo-nos numa resposta fechada, como se só existisse um resultado único.
Para mim, a magia desta resposta é podermos dizer que o propósito da vida pode ser caracterizado pelo o caminho que vamos realizando, ao estarmos despertos para o que cada experiência pode trazer-nos. Contudo, não significa que muitos dos nossos passos não sejam preparados em consciência, respeitando a nossa essência, o que amamos, o que desejamos… passos baseados na procura pela satisfação, realização e harmonia.
A partir daqui, começa a surgir a riqueza de cada pessoa ser única, com valores e ambições diferentes, permitindo assim criar caminhos distintos, mas igualmente significativos.
Tendo o pressuposto inicial de que esta resposta não tem que ser fechada, importa acreditar na possibilidade de podermos redirecionar este caminho as vezes que forem necessárias, pois estamos num processo de aprendizagem…de autodescoberta…umas vezes mais fácil, outras vezes mais difícil, mas procurando sempre um olhar compassivo sobre nós próprios, de forma a transformar as nossas vulnerabilidades em forças, que nos levem à mudança e crescimento.
Dra. Catarina Ramalho
O ser humano confronta-se, ao longo do seu ciclo de vida, com a sua finitude.
Procura criar, por isso, um propósito, um sentido para a sua existência. A possibilidade de criar esse sentido está intrincada com a identidade de cada indivíduo, e é um processo único para cada um de nós.
Esta tarefa é complexa e está em constante movimento ao longo da vida. Quando procuramos dar significado à nossa vida, sentimos o prazer de estar vivo e de poder continuar a viver, inclusivamente para além das nossas vidas.
Sendo o ser humano profundamente relacional, esta procura de significado está intimamente ligada às relações. O encontro entre duas subjetividades permite criar-se algo único. Através do olhar do outro, o indivíduo cria um significado para si e atribui um significado para a sua vida. As relações familiares, de amizade, são promotoras do desenvolvimento do indivíduo. Também a relação psicoterapêutica pode ter esse significado. Através de um espaço de liberdade em que o indivíduo é aceite pelo que é de forma profunda, o processo terapêutico está ligado ao processo de descoberta de cada um.