Hoje respondemos a mais uma questão que nos foi colocada através das redes sociais: Psicologia e Psiquiatria devem estar associadas? Entenda as diferenças entre Psicologia e Psiquiatria, nomeadamente diferenças de modelo e abordagem, no texto abaixo escrito pela Dra. Filipa Roncon.
Se quiser colocar a sua própria questão à nossa equipa clínica, poderá fazê-lo contactando-nos através das nossas redes sociais ou enviando um email para perguntaaopsicologo@psionline.pt
Teremos todo o gosto em responder!
Num mundo ideal Psicologia e Psiquiatria seriam (ou serão) dois campos do saber associados, ambos ao serviço do bem-estar das pessoas. No entanto, não vivemos num mundo ideal e sim, no mundo que é possível e que necessita da participação de todos os profissionais para ser um mundo melhor. A boa notícia é que há cada vez mais Psiquiatras que se articulam com Psicólogos e vice-versa.
Modelos e abordagens da Psicologia e Psiquiatria
Importa realçar que Psicologia e Psiquiatria seguem modelos e abordagens diferentes.
A Psiquiatria segue o modelo médico e foi definida (Curran e Guttman (1949); citados por Mayer-Gross, Slater e Roth (1972) Psiquiatria Clínica. Pág. 8. S. Paulo: Ed. Mestre Jou.) como “o ramo da Medicina cujo principal objetivo é o estudo, a prevenção e o tratamento de todos os tipos e graus da doença mental.” Esta definição foi evoluindo e hoje a Psiquiatria não só investiga, previne e trata pessoas com doença mental, como também pessoas com mal-estares psíquicos transitórios, tais como estados depressivos, perturbações de ansiedade, entre outros.
A Psicologia segue o modelo biopsicossocial. Como recorda Gabriela Mota, citando Ricou, a forma de atuação dos psicólogos [é] a partir da relação e [na] tentativa de compreender o “facto pessoal total” (o indivíduo como ser activo, psicobiológicamente e socialmente, em contínua e dinâmica interação com os seus próximos e em relação com o meio ambiente), com a finalidade de aumentar o bem-estar pessoal, garantindo simultaneamente o bem-estar social.
Na prática, o Psiquiatra está focado nos sintomas das doenças mentais e nos sinais de mal-estar psíquico do doente, de modo a proporcionar alívio desses sintomas através da medicação. Por outro lado, o Psicólogo Clínico está focado em ajudar a pessoa (ou pessoas) a compreender as causas que originaram o seu mal-estar, a ganhar novas perspetivas sobre as situações e a ativar os seus próprios recursos internos para lidar com as dificuldades inerentes a toda a existência humana. A forma privilegiada que o Psicólogo Clínico tem para desenvolver o seu trabalho é através da relação.
Psicologia e Psiquiatria devem estar associadas?
Por seguirem modelos e abordagens diferentes nem sempre assistimos à associação entre Psicologia e Psiquiatria, prejudicando as pessoas que beneficiariam de uma intervenção farmacológica e psicológica ao mesmo tempo.
Em suma, a Psiquiatria não tem que ter Psicologia associada, tal como a Psicologia também não é obrigatório que esteja associada à Psiquiatria. No entanto, se nos perguntasse – “seria benéfico estas duas ciências estarem associadas?” Em muito casos, claramente que sim.
Porque, de facto há momentos em que a nossa vida muda sem aviso prévio, em que nos confrontamos com o imprevisível, em que os nossos recursos internos parecem não ser suficientes. Há momentos em que o nosso passado parece “invadir” o presente, momentos em que nos sentimos a perder o norte, momentos em que não vivemos, apenas sobrevivemos. Nesses momentos, palavras como “desistir”, “insuportável”, “incapaz”, “impossível” dominam o nosso léxico interior. Por isso, em alguns momentos, sim, pode ser benéfico tomar um medicamento e ao mesmo tempo olhar para o sofrimento.